Arqueologia da Amazônia, de Eduardo Goés Neves - Parte 2
- historia na rede
- 24 de nov. de 2019
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de nov. de 2019
Na postagem anterior, referente à mesma obra, levantamos algumas considerações quanto ao indispensável estudo realizado por Eduardo Goés Neves, no qual ele realiza algumas desconstruções que englobam desde a composição do meio ambiente amazônico até a presença ou não de sociedades complexas na região. Como forma de argumentar a veracidade da existência dessas sociedades, o autor também faz uma interessante exposição das principais tradições ceramistas encontradas em diversas regiões do território amazônico, pois elas são a maior prova de que houve sociedades capazes de se organizar a ponto de produzirem esses utensílios com formas detalhadas e sofisticadas.
Antes de entrar de fato na exposição de cada uma delas é importante trazer o destaque com o qual Góes Neves trata os sítios de terras pretas, uma vez que, como dito da primeira postagem sobre a obra, “além de muito férteis, são ricos em vestígios arqueológicos” (p. 54). Isso porque são locais ocupados por sociedades mais sedentárias, ou seja, com menos mobilidade e, portanto, deixavam muitos vestígios de sua presença, sendo as cerâmicas as maiores representantes da cultura desses povos.
Enfim, destacamos que as imagens aqui utilizadas fazem parte do livro O Museu Paraense Emílio Goeldi, de 1986.
Tradição polícroma
A Tradição Polícroma ou Policrômica é caracterizada por ter várias cores, como o vermelho, laranja, preto e base branca. Poder ser decorada com medelado, incisão, excisão etc. A cerâmica marajoara é sua representante mais antiga, mas além dela, existem várias fases dessa tradição e recebe nomes diferentes de acordo com a região: Miracanguera, Guarita, Borba, Tefé, Nofurei, Napo, Caimito etc.

Urna policroma marajoara
Um fato interessante dessa tradição é que sua cronologia e distribuição geográfica mostram que esse fenômeno é genuinamente amazônico, ou seja, a Amazônia também foi um centro radiador de tecnologia ceramista, porque quanto mais as cerâmicas policrômicas aparecem no sentido de subida do rio Amazonas, mais recentes cronologicamente elas são.

Alguidar policromo marajoara
Cerâmica marajoara
Cerâmica Marajoara se encontra na região do Baixo Amazonas, na ilha de Marajó. Geralmente, caracteriza-se por pinturas em vermelho, laranja, preto e branco, com motivos antropomorfos, zoomorfos ou abstratos. Ainda não há uma datação precisa para essa fase, mas há consenso que sua duração está entre os séculos IV e XIV.

Vaso marajoara

Urna antropomorfa

Estatueta marajoara

Vasos miniatura marajoara
Como Góes Neves afirma, os sítios dessa cultura marajoara se caracterizam por estarem tesos, ou seja, aterros artificiais com alguns metros de altura e comprimento.

Tradição incisa e ponteada
Na região do baixo Rio Amazonas encontram-se sítios arqueológicos contemporâneos aos das cerâmicas polícromas, datados dos anos 1000 até o início da colonização europeia. Essas áreas se estendem desde a foz do rio Xingu até a cidade de Parintins e é onde foram encontradas cerâmicas pertencentes à tradição incisa e ponteada.
Essas cerâmicas são caracterizadas por suas formas complexas, sofisticadas e com técnicas de produção voltadas a pintura e ao modelado, sendo as cerâmicas tapajônicas ou de Santarém as mais conhecidas dessa categoria. Os vasos tapajônicos mais conhecidos são os “cariátides”, decorados por representações zoomórficas e antropomórficas.

Vaso de cariátides konduri
Os “konduri”, encontrados nas regiões dos rios Nhamundá, Trombetas e em Parintins, também fazem parte dessa tradição, são caracterizados por detalhes modelados em formas antropomorfas e zoomorfas.

Vasos de gargalo konduri
Nessa categoria de produções ainda se incluem os “muiraquitãs”, encontrados nas regiões anteriormente citadas e também em locais como a Ilha de Marajó, Santarém, entre outros. São peças pequenas e quase sempre modeladas em formas zoomorfas, sendo os antropomorfos bem raros.

Pingentes batraquiformes
Uma curiosidade interessante sobre esses objetos, e que não está presente no livro de Goés Neves, é a crença de que teriam sido esculpidos pelas Amazonas - as mulheres guerreiras - ou produzidos por alguns povos asiáticos.

Muiraquitãs
Cerâmicas de Maracá
Os achados arqueológicos na região do Amapá apresentam uma grande diversidade cultural refletida nas cerâmicas, que são distintas, mas contemporâneas umas às outras. As conhecidas como “cerâmicas de Maracá”, descobertas no século XIX, incluem uma variedade de urnas zoomorfas e antropomorfas.

Urna antropomorfa maracá
Apesar de grande parte das cerâmicas do Amapá não serem assertivamente datadas, as “cerâmicas de aristé” é supostamente remontada aos séculos IV ou V. Essa categoria de cerâmicas juntamente com as de Maracá são encontradas em grutas e cavernas.

Estatueta antropomorfa 1 konduri
As imagens como recursos didáticos
A exposição realizada até aqui tem como objetivo, além de apresentar os estudos sobre a arqueologia da Amazônia, trazer recursos relacionados ao tema para melhor aplicá-lo em sala de aula, sendo as imagens um importante meio de fazer com que o aluno entre em contato com o assunto estudado. Assim, na falta de recursos ou tempo para planejar uma ida aos museus ou laboratórios arqueológicos, essas imagens devem ajudar a ilustrar determinados aspectos culturais das sociedades que habitaram e das que habitam a região amazônica.
Quando se traz essa discussão ao campo do livro didático, percebemos que muitos desses materiais não possuem uma forma de complementar as informações escritas. Segundo Alessandra Pedro, “as imagens vêm sendo operadas como fundamentais nas relações ensino-aprendizagem”, assim, quando são incluídas no livro didático possibilitam a visualização daquilo que se está lendo e criam uma nova organização onde “a escrita e a imagem dialogam de forma a construir uma visão do passado passível de ser aprendida com o olhar”. Portanto, considerou-se importante trazer essas imagens para que ilustrassem os conhecimentos trazidos por Eduardo Goés Neves.
Escrito por: Ana Rivick L. Bernardo e Daniele Costa Tavares
Editado por: Felipe Saldanha
Referências
LIMA, Maria. Ensinar a escrever no âmbito do livro didático de história. In: ROCHA,
Helenice; REZNIK, Luís; MAGALHÃES, Marcelo. (Org.). A história da escola: autores
livros e leituras. 1ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. p. 227-241.
PAPAVERO, Nelson; BRUNI, Sérgio de Almeida; LA PENHA, Guilherme Mauricio Souza Marcos de (Org.). O Museu Paraense Emílio Goeldi. São Paulo: Banco Safra, 1986.



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